
Foto: Pablo Valadares / Câmara dos Deputados
Brasília – O deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) propôs a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar um suposto esquema de tráfico internacional de indígenas no interior do Amazonas.
A proposta foi apresentada em audiência pública realizada na manhã desta quarta-feira (10), na Câmara dos Deputados, após a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) identificar 18 casos de doutrinação islâmica realizada por turcos no município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 km de Manaus).
O objeto da investigação terá como basd a denúncia da Funai sobre o processo de islamização no município amazonense que vem doutrinando crianças e adolescentes indígenas, enviando-as para a Turquia com a promessa de melhores condições de vida. Também foi apurado pela Funai que o grupo islâmico já atua no território amazonense desde 2019.
Para o deputado federal Amom Mandel, a proposta de CPI ganha ainda mais força por se tratar de uma questão internacional, obrigando o Estado a dar uma resposta para que a reputação do Brasil não seja prejudicada.
“Os casos de tráfico humano e de exploração sexual de menores (…) é um problema pertinente. Como citei aqui, dez anos atrás houve um caso de exploração sexual de menores de idade indígenas para venda a garimpeiros, fazendeiros, empresários locais e até políticos e para outras pessoas da Venezuela por exemplo. Sempre houve um quê internacional nesse problema e agora é envolvendo a Turquia. O problema em si é o mesmo, com a falta de presença do Estado brasileiro na Amazônia”, disse o deputado.
A diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai, Lúcia Alberta, relatou que o caso começou a ser apurado pelo órgão em outubro do ano passado, após o acionamento do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente em Manaus, que chegou identificar a presença de oito jovens entre 13 e 16 anos na casa de dois turcos.
“Esses jovens relataram que a ida para a instituição (centro islâmico) foi mediada pelos parentes. Ou seja teve a autorização dos pais com a oferta de melhores condições de vida, com a melhoria da educação dessas crianças e adolescentes, que posteriormente seriam enviados para a Turquia para continuar os estudos e posteriormente retornarem ao Brasil como professores de religião”, afirmou a diretora.
Segundo ela, os jovens eram obrigados a realizar os deveres domésticos do local, em situação de má higiene e precariedade de alimentos.
“A alimentação deles se restringia a arroz e feijão, sem nenhuma proteína e raramente eles comiam macarrão. (..) Ainda consta nesse relatório da Funai que as condições dessa casa eram muito precárias e insalubres. O quarto dos jovens eram muito sujo com a presença de um forte odor, bem como falta de higiene no banheiro que eles utilizavam no decorrer do processo (de doutrinação)”, ressaltou a diretora.
Na audiência pública promovida para debater o assunto ficou estabelecido que o embaixador da Turquia no Brasil será convidado para prestar esclarecimentos.
Presente na audiência, a delegada da Polícia Federal (PF), Letícia Prado da Silva Cavalcante, informou que não se aprofundaria no tema durante a audiência pública, pois o caso segue em processo de investigação.
“Cumprimos diligências sigilosas”, reforçou.